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Artigos

Um Pintor Transcedente

Autor(a):

Boris Cristoff Tradução: Angela Nunes

em

17 de outubro de 2013



Noite estrelada de Vincent Van Gogh, símbolo de seu destino astrológico.

Esta é a versão pedagógica sobre a vida de um artista famoso, interpretada pelo astrólogo. Para entender e explicar o passado e o futuro de um nativo, um astrólogo precisa unicamente da data, hora e lugar do nascimento. Faltando algum destes dados, é possível supri-los com técnicas mais complexas.


SÍNTESE DO MÉTODO PROLUNA

PROLUNA é o método mais compacto e simples descoberto em 1963. O método é  gráfico, evitando demasiadas explicações. Trata-se da progressão da Terra ao redor do zodíaco, que simboliza uma vida completa, na razão de 7 anos para cada uma das doze casas ou setores em que  o zodíaco é dividido.


O ciclo 7 foi difundido pelos caldeus e pelo grego Hipócrates, ciclo este que os judeus usaram para criar a semana de 7 dias. Já era conhecido por caçadores centro-europeus há 30.000 anos (Alexander Marshack), quando gravavam as fases lunares em ossos de rena e mamute, que coincidiam com as melhores caças e pescas.


Cada CASA indica uma idade septenal: infância 0 a 7 anos, escolaridade 7 a 14 anos, adolescência 14 a 21 anos, 1ª juventude 21 a 28 anos etc.

Cada SIGNO indica como essa infância foi encarada, essa escolaridade etc. A evolução das idades é indicada por um pequeno círculo que representa a translação da Terra ao redor do zodíaco.


Cada PLANETA indica um acontecimento pontual de significado milenário: Sol  saúde física, Lua  saúde psicológica, Marte  trabalho, Vênus  amor, Mercúrio  inteligência, Júpiter as finanças, Saturno a economia, Urano a liberdade, Netuno a sensibilidade e Plutão as metas.

O planeta Terra avança 4° em média por ano. Quando alcança a posição de outro planeta, ou o defronta, colocando-se a 60°, 90° ou 120° dele, produz-se um ASPECTO, quer dizer, uma ativação importante na vida do nativo, seja na saúde, no psiquismo, trabalho, amor, finanças etc. Pode ser uma grande iniciativa, uma nova perspectiva, um engrandecimento ou um retrocesso em cada tema.


PLANO DE INTERPRETAÇÃO

Para entender a vida de VAN GOGH, este é o plano geral:


1- Visão gráfica; 2- Corpo e Alma (signo solar e signo ascendente); 3 – Precocidade (o ascendente indica a idade psicológica e cronológica do nativo); 4 – Idades septenais (casas); 5 – Etapas caracterológicas (signos); 6 – Acontecimentos biográficos pontuais (planetas); e 7- Forma harmônica ou desarmônica de cada acontecimento (aspectos orais ou escritos).


1 – VISÃO GRÁFICA

Van Gogh nasceu numa quarta-feira, 30 de março de 1853, às 10h43m GMT em Zundert, Holanda, representado graficamente neste mapa astrológico, também chamado de mapa natal.




Fora da figura, estão indicados os quatro ângulos do céu: à esquerda AS ou Ascendente, é o amanhecer. Acima MC ou Meio do Céu, é o meio-dia. À direita DS ou Descendente, é o ocaso. E abaixo FC ou Fundo do Céu, é a meia-noite. As linhas concêntricas, que aparecem fora do zodíaco, são as doze casas, e os números junto a elas são os graus em cada signo.


O 1º círculo exterior indica os signos do zodíaco. O 2º círculo contém onze planetas com seus graus. O 3º é a escala de 360° do zodíaco. No interior da figura, a partir do AS à esquerda e até abaixo, é o sentido de evolução das idades de Van Gogh. Começa por 53, ou seja, o ano 1853 de seu nascimento, logo cada 7 anos indica-se 60 por 1860 em sua escolaridade, 74 por 1874 quando cumpriu sua maioridade etc.


No centro deste mapa estão marcadas linhas verdes (harmônicas) e vermelhas (desarmônicas), que são os aspectos escritos (acontecimentos muito importantes e imprevistos). Consideram-se também aspectos orais ou não escritos, que se calculam pela distância angular da Terra a cada planeta em ciclos de 30°, 60°, 90°, 120°, 150°, 180°.


Neste mapa a Terra está acima, no final de Touro, indicada por um pequeno círculo.


ADVERTÊNCIA SOBRE ESTE MAPA


Este é um mapa perfeito por excelência para se observar de um só golpe de vista uma vida inteira. Da mesma forma como na Astrologia Mundial, quando os planetas estão concentrados em um ou dois signos, isso é indicativo de crise, conflito, caos, confusão, desordem. Quando os planetas estão separados e com linhas harmônicas, é indicação de êxitos, harmonias, clareza, ordem. Van Gogh tem em seu mapa 8 planetas em apenas três signos, e outros três em signos separados. É como se, para um atleta corredor de obstáculos, lhe fossem colocadas várias barreiras juntas para serem saltadas. Que super-homem poderia ser Van Gogh para saltar todos estes oito obstáculos  juntos?


Outra interpretação se impõe: se Van Gogh tem apenas 4 signos contendo planetas, não teve uma visão de conjunto da vida como se tivesse 10 signos com planetas. Isso limitou seu enfoque a poucas e concretas alegrias e crises.


O certo é que Van Gogh, não tendo ido além de Ceres em toda sua vida, não gerou anticorpos contra o impacto de cada planeta, e não pôde passar além da conjunção Lua-Júpiter (ao lado do ano 88), morrendo justamente frente a este duo de planetas.


Mais gráfica essa vida não pode ser: é como ver um esquema  gráfico da circulação sanguínea. É que cada planeta é como um corpo, ou protuberância, que precisa ser contornado para se seguir adiante. Nem todos os “corpos” são tão dramáticos como neste caso. Foi demasiado contrastante viver 37 anos sem experiências prévias em seu caminho e de repente ter que absorver o choque contra dois dos mais importantes aspectos vermelhos de Marte e Vênus com Lua e Júpiter, que marcaram um suicídio lento, mas derradeiro.


2- CORPO E ALMA (signo solar e ascendente)

O signo solar é o FUNDO CARACTEROLÓGICO do nativo, é seu caráter básico que se mantém com matizes por toda a vida. A Caracterologia, ou Tipologia da Astrologia, é a única prática e a mais conhecida da humanidade.


(Nos anos 70, o Instituto Gallup Internacional informou que 99% dos adultos conhecia seu signo solar, que 72% acreditavam nas características dos signos e que 30% aceitavam o destino. Em 2010 estes últimos números aumentaram).


O Sol em Áries marca Van Gogh com um FUNDO claramente INDIVIDUALISTA. Van Gogh não chega a compartilhar sua vida com quase ninguém e nem sequer pôde formar uma família estável. Isso o circunscreveu  a que o universo fosse apenas sua própria pessoa. Sua biografia centra-se apenas nele mesmo, embora as circunstâncias o rodeassem de muita gente: alunos, mineiros, colegas artistas, seu irmão, uma viúva que o rechaçou e uma prostituta. Isto está indicado pela grande maioria de planetas no hemisfério superior. Seu fracasso matrimonial reflete-se na escolha de cores nos seus quadros. Ele dizia que usava cores contrastantes por serem muito mais eficazes, tal como a complementação entre homem e mulher. Antes de exalar seu último suspiro, disse a seu irmão Theo que “a vida é um grande sofrimento”. Quer dizer que, com seu individualismo limitante, pressentia que jamais poderia enfrentar a sociedade em seu conjunto. Sua forma de pintar é bem ariana, com “golpes de pincel”, tal como dizem seus biógrafos, uma pintura de traços grandes e bem aplicados, com cores primárias onde se destacam o vermelho e o amarelo, com grandes contrastes como a franqueza do ariano, bem diferente do signo oposto Libra, que usa cores foscas, típicas da pintura libriana. A prova maior de seu individualismo é a enorme quantidade de autorretratos que  deixou.


Por outro lado, o signo ascendente Câncer indicou sua FORMA FÍSICA, seu aspecto, seu invólucro carnal. Esse frágil ascendente chocava-se com seu forte sol em Áries (Áries e Câncer são desarmônicos por estarem a 90° entre si), o que resultou em  adversidade para sua busca de força e poder, tão típico dos signos de Fogo. Foi muito distinto do destino de Marilyn Monroe, cuja harmonia entre ascendente Leão e sol em Gêmeos lhe conferiu a fama que um signo de ar  pode desejar. Embora ambos tenham morrido precocemente, com apenas dois planetas no hemisfério inferior e oito no superior, Marilyn morreu com grande fama, e Van Gogh, por outro lado, nem supôs que sua obra de apenas dez anos  teria tal êxito mundial.


Seu planeta mais elevado era o Sol perto do Meio do Céu, voltando-se ao mundo egoísta do qual não podia sair. O Sol (o Eu) está, além do mais, acompanhado de Mercúrio (inteligência), Urano (liberdade), Plutão (plano de vida), Vênus e Marte (o sexo), Netuno (sensibilidade) e Saturno (segurança) definindo suas opções principais.


3- PRECOCIDADE 

A precocidade, ou idade psicológica, mede-se pelo signo ascendente: Áries vai de 0 a 7 anos, Touro de 7 a 14, Gêmeos de 14 a 21 etc. Van Gogh, por ter o signo de Câncer como ascendente, sua precocidade estava entre 21 e 28 anos psicológicos, quer dizer, a idade do jovem casadouro.


Como seu ascendente estava no grau 21, sua precocidade ao nascer era de 26 anos. Ao enamorar-se de sua prima viúva, tinha 21 anos cronológicos, mas 49 anos psicológicos. Ao morrer, sentia-se como um homem maduro tardio de 60 anos, daí seu pessimismo e sua autoagressão, apesar de haver apenas alcançado 37 anos de idade cronológica. Van Gogh como  Marilyn sempre tiveram uma psicologia precoce e antecipada com relação a suas idades cronológicas e jamais se sentiram  jovens como eram fisicamente. Esse maior amadurecimento frente aos outros de mesma idade, os distinguiu em suas performances.



Van Gogh adolescente e jovem.


4- IDADES SEPTENAIS (casas)

As idades septenais na Proluna são as casas, que duram 7 anos cada uma. O signo que se apresenta em cada casa indica o caráter do nativo nessas idades. As idades são a prova fundamental de um destino já determinado, pois nada escapa à progressão ordenada e previsível das circunstâncias de cada idade.


A infância de Van Gogh transcorreu nos signos de Câncer e Leão, o que se traduz em um desenvolvimento maduro, sem aborrecimentos nem birras, como as que são ocasionadas pelos signos do primeiro quadrante: Áries, Touro e Gêmeos. Seu crescimento (0-21 anos) teve um desenvolvimento desarmônico já que Áries é o símbolo do crescimento e Câncer é o signo da  atividade sexual e procriação, portanto há uma desarmonia evidente. Sua juventude (21-42), que não completou, também teve essa desarmonia e, se continuasse vivendo, Van Gogh continuaria a ter as mesmas desarmonias. O ideal é que casas e signos tenham uma harmonia por elemento: harmonia de signos de Fogo com casas de Fogo ou Ar, harmonia de signos de Terra com casas de Terra ou Água etc.


5- ETAPAS EVOLUTIVAS (signos)

6- ACONTECIMENTOS PONTUAIS (planetas)

7- FORMAS DOS ACONTECIMENTOS (aspectos)  

Van Gogh viveu apenas 37 anos, ou seja, pouco mais que cinco idades septenais.


CÂNCER, signo humanista e familiar, foi o signo que o marcou até seus 4 anos, quer dizer, um caráter muito emotivo e uma vida caseira e paternal.


LEÃO, signo individual de cultivo do ego, regeu desde os 4 até os 15 anos, quer dizer que seu caráter se afastou da influência familiar, indo em direção a uma cultura física e caracterológica muito precoce.


VIRGEM, signo material de serviço e de trabalho, foi sua etapa evolutiva entre 15 e 23 anos. Justamente no ingresso deste signo, é quando Vincent Van Gogh tem o seu primeiro trabalho como empregado em uma empresa de arte em Haya.


Ainda em Virgem, em 1874 começa a se interessar pela religião, que herdara geneticamente de seu pai, ministro protestante, deduzindo-se que nesse ano seu ponto Terra está em oposição exata com Netuno, o planeta religioso por excelência.


Em 1875 a empresa se muda para Londres, e com ela vai também Vincent. Nesse ano a Terra está em quadratura com a Lua e Júpiter, o que indica a ruptura de sua vida familiar (quadratura Lua) e a viagem, apesar de sua quadratura com Júpiter.


LIBRA, signo social e de relações públicas, de equilíbrio, da estética e coletivismo, foi o nível de caráter seguinte, entre seus 23 e 28 anos. No ingresso em Libra, a empresa o despede e ele se torna assistente de mestre em Kent. Assim, aprende a lidar com grupos de pessoas e ao mesmo tempo estuda religião de maneira clássica.


Na oposição ao sol, em 1878, converte-se em ministro leigo, quer dizer, em estado de aprendizagem. Em 1879, produz seus primeiros desenhos, em boa sintonia com sua etapa Libra, e na oposição exata a Mercúrio, em 1880, decide-se por fim tomar aulas de pintura, dado que Mercúrio é o ensino e também em sintonia com Libra.  



Esta galeria de autorretratos é o universo que Vincent Van Gogh melhor conhecia, sua própria figura, suas expressões e suas vestimentas.


ESCORPIÃO, signo humanista e de relações humanas, emoções profundas e seletivas, é sua etapa de caráter seguinte, entre 1881 e 1885. Exatamente em 1881, aos 28 anos de idade, enamora-se de uma prima viúva e com filhos, a qual o rejeita. Seu passo seguinte é relacionar-se com uma prostituta, em reação ao fracasso prévio, o que é combatido por seu pai, ministro religioso, e por seu irmão, privando-o assim de outra possibilidade sexual. Note-se agora que os aspectos de sua Vênus são  totalmente vermelhos, sendo seu planeta pior aspectado.


Em 1885, seu ponto Terra se opõe exatamente a Saturno, justamente quando falece seu pai. Sua biografia diz que ele se sente mais livre. É que junto a Saturno está Urano, o planeta da liberdade.



O quarto de Van Gogh em Arlés. Os girassóis são sóis de Fogo. Panorama muito colorido como seu signo, sua visão, seu cabelo. Uma amoreira.  


SAGITÁRIO, signo individualista e mundano, de expansão e viagens. Apenas iniciada esta etapa sagitariana, Van Gogh viaja a Paris em 1886 e se junta à elite da pintura européia: Degas, Gauguin, Toulouse Lautrec, Pîsarro etc.


Em 1888, com Gauguin, decide formar um grupo de artistas de apoio mútuo. Neste ano, Van Gogh viaja a Arlés e convida Gauguin para partilhar sua vida. Seu ponto Terra se coloca em 15° de Sagitário, em conjunção com a Lua e Júpiter, em 21° e 24° do mesmo signo, que o leva pela primeira vez em sua vida a enfrentar uma grande mudança biográfica, já que antes não havia planetas. Gauguin concorda em viver com ele, mas as discussões e o álcool o assustam, retirando-se para um hotel. Van Gogh, arrependido, corta o lobo de sua orelha com sua navalha e a envia a Gauguin, através de uma amiga prostituta. Arma-se um escândalo, no qual intervém a polícia, e Van Gogh é internado com delírios durante três dias.



Seu famoso céu estrelado tem sido comparado com esta galáxia, do telescópio Hubble, em 2003. Pastagens de inverno. Vincent e seu irmão, Theo Van Gogh.   


Em janeiro de 1890, com o ponto Terra em 25° de Sagitário, fazendo conjunção partil com Júpiter (conjunção Lua, quadratura Vênus, trígono Plutão e Mercúrio), começa seu calvário. Ingressa de novo no hospital, tem insônia, 30 vizinhos reclamam para que a polícia interne “o louco do cabelo vermelho”, em maio entra  voluntariamente em um sanatório, passa de mudança em mudança, tenta fazer-se padrinho de seu primeiro sobrinho, em dois meses em Auvers pinta mais de 80 quadros. Por último, vai a Paris ver seu irmão, que está com preocupações econômicas e com  seu filho enfermo.


Angustia-se por ser uma carga para seu irmão e teme outro ataque. Em 27 de julho sai para o campo e se atinge com um revólver; regressa e avisa aos senhores Ravoux  que solicitem um médico, por não encontrar-se bem.


Reconhece haver disparado e os médicos enfaixam a ferida, mas não extraem a bala. Inteirado da notícia, Theo parte para Auvers e passa o dia com Vincent fumando cachimbo.


Tudo isso ocorre no ano em que o ponto Terra se envolve com seis planetas, dois em conjunção e quatro em quadraturas e trígonos. Dois dias depois, em 29 de julho, falece o primeiro gênio da pintura contemporânea e, coincidentemente, 6 meses depois falece seu irmão.


EM RESUMO

É fácil comparar a interpretação visual rápida, como esta, com a racional, lenta e analítica, dos métodos antigos. Sendo tão individualista, tão bom pintor e tendo vivido “uma vida louca”, qual foi a qualidade que o fez tão transcendente para nossa época? Seu individualismo vai contra nosso mundo coletivista onde “os últimos serão os primeiros”. Sua maestria na pintura ajudou muito, mas se sua vida não tivesse sido  difícil, dramática e suicida, ele não alcançaria a consideração que agora lhe é outorgada, como ocorreu com Jesus e Gardel.


Van Gogh viveu sempre com “o pé trocado”, o que não o impediu de ser um dos personagens mais incorporados por nossa cultura e memória, um símbolo das crises que estamos vivendo, como ícone da era de Peixes. Essa foi a chave de sua fama. É que tudo é relativo, se vivêssemos na era de Touro, Áries ou Aquário, outra chave traria a grande fama. “O louco do cabelo vermelho” é o símbolo complexo que nos agrada agora, no lugar de messias exitosos e líderes harmônicos, porque assim é nossa época final, obrigada pelo destino a ser destruída para ser reconstruída no próximo século, em uma nova época revivificante, esperançosa e bem sucedida, como vem acontecendo desde o alvorecer  do nosso universo.  


Boris Cristoff é o criador do método PROLUNA


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