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A Sociedade de Controle ou Plutão em Capricórnio

Autor(a):

Silvia Ceres (Argentina)

em

28 de agosto de 2008

Em novembro de 2008 Plutão ingressará definitivamente no signo de Capricórnio, onde permanecerá até 2023.

Que acontecimentos este trânsito trará no plano social? Como sucede habitualmente, não é simples inferir as muitas cenas possíveis que podem construir-se no período da passagem de um planeta por determinado signo, mais ainda em um mundo cambiante como o atual.

Para começar a vislumbrar o tom do trânsito, vale recordar que durante o lapso de sua estadia em Capricórnio, Plutão realizará durante o ano 2020 uma nova conjunção com Saturno, o regente do signo em questão. Ano significativo, em tanto se iniciará o período das conjunções dos cronocatores–Júpiter e Saturno- no elemento Ar, depois de 200 anos em signos da triplicidade de Terra.

Se adicionarmos que o trânsito atual se realizará dentro do ciclo inaugurado pela conjunção anterior de ambos os planetas em 1982, aos 27º Libra –signo de exaltação de Saturno- é possível perfilar características implicadas no jogo Saturno/Plutón.

Saturno e Plutão, senhores do limite.


No sistema solar vigente durante milênios, Saturno era o limite de um sistema solar considerado como um modelo estável, constante, invariável e permanente. A partir do século XVIII, o descobrimento de cada um dos transaturninos foi uma revolução do paradigma astronômico e, portanto, da relação do homem com o cosmos.

Quando em 1930 Plutão foi descoberto, o planeta se converteu no novo  limite, embora algo exótico devido a sua órbita irregular. Mas apesar de tudo, cumpriu sua função de “senhor da soleira” entre o sistema solar e “o vazio”. As sucessivas observações o revelaram cada vez menor, de sistema dual, até que em 2006, os membros da União Astronômica Mundial reunidos em Praga, classificaram-no como planeta anão, mais um dos múltiplos corpos celestes que conformam o chamado cinturão do Kuiper.

De maneira que Plutão desfrutou durante algo mais de 70 anos da categoria de suposto limite, suposto planeta, suposto borde, categoria perdida  ultimamente. Enquanto isso, a sociedade foi encontrando-se com situações difíceis de demarcar, da teoria do caos e a incerteza, à quebra dos princípios racionais sustentados pela Modernidade.

A era Reagan


Enquanto Saturno e Plutão se preparavam para realizar sua conjunção em novembro de 1982, já fazia dois anos que Ronald Reagan ocupava a Casa Branca, posto ganho com 50,75% dos votos.

Como sucessor da opaca presidência do C. Carter, Reagan iniciou seu mandato produzindo uma recessão econômica importante para frear a crescente inflação. A partir de 1983, sua política em geral e a economia em particular pareceram ganhar parte do terreno perdido na década anterior.

O governo de Reagan – excelente comunicador e habitual conferencista do ideal capitalista para a empresa General Electric – girou sobre cinco pilares principais:– liberalismo econômico– recortes fiscais– redução dos serviços do estado protetor– moral conservadora e marcadamente religiosa– política externa agressiva, determinada por um anticomunismo visceral e sustentada em uma reorganização da estrutura político-militar dos Estados Unidos em todo o mundo

A este homem singelo, franco, otimista, semelhante a um bom xerife do longínquo oeste -papel tantas vezes protagonizado como ator- devemos a frase “O império do mal”, para referir-se ao comunismo.

Em 1984 obteve sua reeleição presidencial com 58,77% dos votos. A Era da globalização e do neo liberalismo como ideário ocidental se instaurou   plenamente.

Retomando a interpretação astrológica


Além disso, do cenário político dos anos 80, pode-se tentar outra aproximação ao significado do trânsito próximo, refletindo sobre as características do elemento Terra, e sua acentuação sobre o fator do rendimento, seja na área material, intelectual, emocional ou ético.

Chegados a este ponto, consideremos as qualidades do elemento Terra em geral e de Capricórnio em particular.

A Terra se caracteriza por obrar e atuar em uma relação estreita e imediata sobre a realidade, pelo qual a experiência se converte em um valor primordial e o conhecimento da história, como ensino global e compartilhado por um numeroso grupo humano, em uma vislumbre do possível suceder.

O princípio de julgar os fatos consumados e suas consequências como úteis ou daninhas para a comunidade dão o perfil de seu critério jurídico.

O signo cardeal da triplicidade de Terra –Capricórnio-, em sua velha representação babilônica de cabra-peixe, alude à dualidade possível da existência: para as profundidades do abismo –água- ou para as alturas –montanhas-; dito em outros termos, Capricórnio expõe a possibilidade da evolução superadora ou a involução reiterativa de um novo ciclo de aprendizagem.

No corpo humano rege os joelhos, articulação que permite ao homem a elevação. Mas também aqui se percebe um ponto de inflexão, já que o indivíduo tanto pode se rebaixar para elevar aos outros como pode rebaixar aos outros para elevar-se a si mesmo. No primeiro caso –evolutivo- encontramos a figura paradigmática do Jesus, cujo nascimento se celebra sob o signo do solstício. No segundo caso –involutivo- podemos pensar em César ou em qualquer autoridade de alguns dos impérios que ao longo da história, chegaram a seu ponto culminante de expansão e decaíram até seu desaparecimento.

De maneira que uma primeira conclusão sobre do trânsito de Plutão –planeta que também joga traçando situações extremas- sobre Capricórnio, pode relacionar-se com a idéia de um cruzamento de caminhos para a humanidade.

Enquanto Plutão se deslocou por Sagitário, sua influência de domínio subterrâneo se expandiu –em terras de Júpiter- até converter-se na ideologia triunfante no mundo ocidental globalizado.

Agora, nos domínios de Saturno, o senhor do tempo e da experiência, deverá enfrentar-se à prova da realidade de seus propósitos.

Michel Foucault e Gilles Deleuze.


Apelamos a teorização destes dois pensadores franceses, autores de um profundo estudo sobre os modelos sociais que da perspectiva astrológica poderíamos denominar sociedade saturnina –sociedade disciplinadora- e sociedade plutoniana –sociedade de controle-. Em seu texto “Pós-escrito sobre as sociedades de controle”(1992), Gilles Deleuze (1925/1995) vislumbrou que a sociedade contemporânea não se constitui mais desde fundamentos disciplinadores -o confinamento, o fechamento, como afirmou Michel Foucault (1926/1984)- mas sim do controle contínuo e das comunicações instantâneas em espaços abertos.

A sociedade de controle parte de outros princípios: opera por um controle ao ar livre, substituindo o modelo disciplinador que exercia seu poder sobre um sistema fechado.

Deleuze denominou este novo poder, como poder de modulação contínua, onde o indivíduo tenta se adaptar a supostas normas não enunciadas dentro de um marco categórico. Enquanto nas sociedades disciplinadoras o objetivo era submeter os corpos a determinados modelos e preceitos, nas sociedades de controle, ao contrário, os moldes e os modelos não chegam nunca a constituir-se total e definitivamente, assumindo modalidades mais fluídas, flexíveis e tentaculares.

A sociedade disciplinadora forjava protótipos definidos: pai de família, aluno, soldado, operário e circuitos rígidos: a casa, a escola, o trabalho. A sociedade de controle, em troca, funciona com redes instáveis, fluídas, carentes de borde.

O menino ou jovem não tem um horário exato para retornar à casa, mas o seguem com o celular. Alguns condenados não estão encarcerados, mas são controlados através de uma pulseira magnética. Há algum tempo atrás, quem não estava doente estava são, agora existem os grupos de riscos que devem fazer controles periódicos. Os estudos genéticos informam sobre possíveis enfermidades e os tratamentos adequados preventivos para males ainda inexistentes.

A frase inocente e cotidiana: “Sorria você está sendo filmado”  se assemelha a normalização de um estado de sítio generalizado. As câmaras de vigilância onipresentes são a metáfora da sociedade de controle.

A este desejo de ver, observar, vigiar e dominar se corresponde um crescente desejo impudico de submeter-se à exibição, de mostrar-se, de oferecer-se sem tabus ao olhar dos outros.

“A vida é uma prisão” afirma Negri (2002). Para o Paul Virilio (1997) vivemos “prisioneiros a céu aberto”.

A sociedade de controle suprime a dialética entre aberto e fechado, entre dentro e fora, entre privado e público, já que aboliu a própria exterioridade. Para o novo capital globalizado não existe mais o exterior –e é obvio, tampouco o interior-.

Ignoramos se estivermos prisioneiros dentro da existência cotidiana ou se estamos excluídos do sistema. Vivemos uma sensação deslocada entre sair e entrar, entre pertencer e nos isolar.

Padecemos a exploração capitalista do trabalho produtivo, mas também seu contrário: a ausência dessa exploração –o desemprego-.

O trabalhador disciplinado do século passado foi convertendo-se em um consumidor insaciável. Já não se trata de adaptar-se a obedecer normas, mas sim a consumir serviços ofertados: da dieta à vida sexual e esportiva. O sujeito não se submete a regras, mas sim investe,  querendo fazer render seu corpo, sua sexualidade, sua comida, seu tempo, sua informação para se rentabilizar.

A empresa substitui a fábrica, suprimindo a produção em vez de organizá-la. É uma revendedora de produtos, uma gestora de trabalho, vende serviços por meio de tercerização. Neste sentido, os valores máximos da mercadoria na sociedade de controle são o prestígio, a informação, o conhecimento especializado. Bem-vindos ao reino do espetáculo, da produção de celebridades descartáveis, de imagens efêmeras. A dinâmica prevalecente é a de uma sociedade de refugos.

Nas sociedades disciplinadoras o sujeito passava de um tempo de trabalho a um tempo de prazer, de um tempo de prazer a um tempo de consumo, de um tempo de consumo  a um tempo de estudo, etc.

Nas sociedades de controle estas fronteiras se esfumaçaram. O tempo do trabalho e o tempo da vida se mesclam. Por um lado a vida se torna inteiramente trabalho: leva-se o trabalho para casa, tudo é trabalho. Por outro lado o trabalho se torna cada vez mais vital, acionando dimensões da vida antes reservadas à esfera pessoal.

O espaço doméstico se torna “produtivo”, de modo que a empresa coloniza a privacidade do tempo livre.

A sociedade de controle -sem fronteira entre as instituições- opera por fluidez e modulação, prescindindo das instituições antes responsáveis pelo disciplinamento do sujeito.

Atualmente não é o dinheiro o que constitui a mercadoria do capitalismo, mas sim  a subjetividade. O capital, através do consumo, apropria-se da subjetividade em uma escala nunca antes vista.

Esta passagem da disciplina ao controle  produz movimentos de desterritorialização,  mas sem abrir um novo território aonde tornar-se consistente. Assim o ritmo da evolução se vê violentado cada vez mais pela velocidade vertiginosa das transformações culturais e das mudanças socioeconômicas.

Astrologicamente, Saturno –enquanto limite e borde – se relacionou com o conceito de rigidez, disciplina, lei, hierarquia, esforço, características que permitem associá-lo com a sociedade disciplinadora que descrevia Foucault.

Saturno nos remete ao princípio da autopreservação, seja através de atitudes defensivas, seja através da ambição que leva ao cumprimento do dever com o conseguinte sentimento de confiança e segurança. Relaciona-se com a forma, a estrutura, a estabilidade que provê a lei, as tradições culturais e sociais, as figuras de autoridade, a função paterna. Ajuda a aprender da experiência -“a letra com sangue entra“- outorgando seriedade, cautela, sabedoria de vida, paciência, economia, atitude conservadora, responsabilidade.

Plutão, mitologicamente, o senhor dos infernos se relaciona com o oculto, poderoso e invisível. A máfia em suas diversas versões, o capital que move os fios do poder –plutocracia- são representações sociais de Plutão.

No plano pessoal produz situações limites, crise, temores incertos, difíceis de pôr em palavras, sensação de ameaça indefinida.

A descrição da sociedade de controle que realiza Deleuze parece bastante aparentada com este planeta da incerteza, onde sua categoria de “suposto” planeta parece haver contagiado a humanidade: “supostos” colaboradores do Al Qaeda, prisioneiros em “supostos” cárceres ilegais, à espera de “supostas” acusações e “supostos” julgamentos.

A queda do Muro do Berlim é a cena paradigmática do desmoronamento de um mundo ordenado – saturnino- onde os bons se diferenciavam dos maus. O atentando às Torres Gêmeas manifesta uma realidade – plutoniana – onde o perigo se faz presente em um lugar impensável.

A brecha entre a guerra fria e o terrorismo, é uma brecha semelhante a que existe entre Saturno e Plutão e entre a sociedade disciplinadora e a de controle.

Resistindo à sociedade de controle


Pensando em Plutão como regente de Escorpião, senhor da morte e dos abismos profundos, que em sua passagem por Capricórnio parece fazer da inquietação, a desconfiança e o temor uma política de Estado, vale perguntar-se como nos protegemos da ameaça constante, surda e ilimitada?

Se na sociedade saturnina ou disciplinadora, o indivíduo encontrava no  lar, rodeado pela família um oásis onde relaxar e escapar das regras rígidas –Câncer-, vale pensar em Touro –e Vênus, seu regente- como um antídoto para tanta ameaça escorpiana.

A mecânica celeste oferece um importante ponto de reflexão. A revolução  de Saturno é similar em anos, à realizada em dias pela Lua. Igualmente, a translação de Plutão é semelhante em anos, aos dias da revolução de Vênus ao redor do Sol.

Em “Esquema de Psicanálise” (1938), Freud indica que “o princípio subjacente às pulsões de vida é um princípio de ligação (…) A pulsão de morte, ao contrário, apoia-se em romper as relações e por conseguinte, destruir as coisas.”

Conceitos que nos permitem pensar, desde outra perspectiva, sobre a alternativa da pulsão de vida –Eros, Vênus- em contraposição a pulsão de morte –Tanatos, Plutão-.

Enquanto Vênus nos oferece o sentido de valor, aquilo que se torna  importante pela ligação afetiva mantida com o objeto, Plutão nos enfrenta meramente à idéia de preço e transação.

O erotismo -sustentado no desejo do sujeito- é inimigo natural da  pornografia –domínio exercido sobre fragmentos de corpos.

E assim nos encontramos com uma paradoxo contemporânea. Enquanto nas últimas décadas os costumes sociais facilitaram as relações íntimas entre os seres humanos–do mesmo ou distinto sexo- a prostituição aumentos à cifras impensáveis. Os corpos –pura carne carente de subjetividade- sao oferecidos, comprados, vendidos, traficados, dominados, violados, assassinados.

O discurso “politicamente correto” mascara muitas vezes a carência do sentimento venusiano de nos ver refletidos no próximo.

Olhando o futuro desde o passado


Nos trânsitos imediatamente anteriores aos de Plutão por signos de Terra -Touro e Virgem- podemos observar que o elemento apresenta uma força concreta da realidade, resistente a qualquer tentativa de interferir no ritmo lento e pausado dos acontecimentos.

As tendências revolucionárias dos períodos de Plutão em Terra se encontraram com a obstinação de um mundo maciço, pouco predisposto a ser mobilizado por ventos de renovação.

Plutão em Touro (1852-1883/84)


O trânsito concluiu com a Conferência do Congo celebrada em Berlim, onde a Europa formalizou seu domínio sobre as sucessivas anexações de colônias no continente africano.

Mas enquanto a Europa estendia seus tentáculos coloniais, se rasgava em guerras internas, uma delas levaria França a capitular diante do Império Prusiano.

O mal-estar da derrota terá uma manifestação impensada na primavera de 1871. Os cidadãos de uma Paris com suas ruas decoradas de bandeiras vermelhas e pretas movendo-se ao vento, decidem autoproclamar um governo popular. Os dois meses de vida da Comuna produziu notáveis mudanças sociais, embora não se propuseram assaltar o estado central.

Seus ideólogos –comunistas, anarquistas e socialistas- expuseram uma economia mais justa e equitativa, um governo autônomo, a separação da igreja e do estado, o ensino laico e universal, melhoria nas condições de vida dos operários e a possibilidade dos trabalhadores de aceder a cargos públicos e administrativos.

Apesar de receber ajuda internacional, a Comuna foi destruída pelo exército francês, em uma Bárbara repressão que produziu a morte de 50.000 pessoas em uma população de 2.000.000 de habitantes-, somados a vários milhares de prisioneiros e deportados.

Apesar de o governo de Paris ter terminado em um fracasso político e um banho de sangue, foi um marco na história das lutas revolucionárias e o mundo não foi mais o mesmo.

Plutão em Virgem (1956/57-1971/72).


De uma maneira geral este período acompanha a jubilosa e buliçosa década do 60, cujo acontecimento paradigmático foi em maio de 68, com  a guerra do Vietnam e as guerras pela independência nas colônias africanas como plano de fundo.

Passaram-se quarenta anos desde aquela tumultuosa primavera que encontrou milhares de jovens manifestantes protestando pelas ruas da França, de Praga, e do México. Embora cada sociedade tenha dado aos movimentos estudantis a sua própria cara, há uma lembrança unificada no imaginário coletivo: o ímpeto de toda uma geração convencida de que a revolução se encontrava na próxima esquina.

A sublevação aconteceu com o ciclo da conjunção Urano/Plutão em Virgem–vigente desde novembro de 1965, quando fizeram o primeiro contato partiu.

A presença de dois planetas tão carregados de questionamentos e de necessidade de formular novos valores no signo da vida rotineira, exemplificam grande parte dos conteúdos dessa revolta: sua falta de ambição de poder político e sua profunda transformação nos costumes cotidianos.

Recordemos que o ocidente desfrutava da expansão de uma economia dinâmica, com aumento de produtividade e forte mobilidade social. Enquanto isso o bloco socialista acumulava potência graças ao trabalho disciplinado de milhões de indivíduos.

A redução do tempo de trabalho e um maior espaço de liberdade para o ócio criativo centra as demandas dos jovens, tanto no mundo capitalista como no comunista.

A revolta questionou a idéia de funcionar como órgãos disciplinados, dentro de um todo mais ordenado –o corpo social-. Em altares de uma expressão individual, se dinamita o conceito virginiano de utilidade, da inter-relação de cada componente do sistema. O sentido de eficácia e o sistemático ajuste metódico de Virgem o leva a construir guiado pelo princípio de uma completa harmonia de todas as partes. Representa o ideal da organização humana físico/espiritual na qual todos os integrantes são nutridos entre si. O corpo -em todas suas partes e mútua coordenação- é reconhecido como o arquétipo da ordem humana e divina.

Por aquela época começa a articular-se entre os jovens rebeldes um discurso social a partir de duas palavras herdadas das correntes libertárias da Comuna de Paris: desregularização e autonomia, conceitos impugnadores dos papéis com que a sociedade emoldura a cada indivíduo. Os anos 60 pregaram a autonomia da dinâmica social em relação ao domínio estatal autoritário, tanto na cultura hippie, como nas comunidades e nas manifestações de ruas.

Nas décadas seguintes, essas bandeiras serão tomadas pelo liberalismo e reduzidas ao marco econômico da competitividade. Enquanto se reclamava a liberdade de não ficar preso por toda a vida ao trabalho na fábrica industrial, a desregulamentação do duo Reagen/Thatcher respondeu com flexibilidade e fragmentação trabalhista.

Os jovens colocaram em marcha um processo arriscado de desestabilização social, de rejeição ao mundo disciplinado – capitalista ou comunista-, que nas mãos da economia de livre mercado se converteu em desregularização ao extremo, liberdade de empresa frente a qualquer controle estatal, destruição da proteção social, corte do gasto público, precariedade e diminuição da produção.  O indivíduo ficou livre, mas também desprotegido das condições obtidas durante décadas de lutas sindicais.

Conclusão

Embora os trânsitos de Plutão pelos signos de Terra não tenham derrubado os grandes poderes mundiais, quebraram seu poder ideológico hegemônico.

Assim no próximo ciclo podemos esperar uma ruptura no imaginário social, questionando assuntos que hoje parecem intocáveis.

Talvez possamos nos encontrar na primavera, seja em Paris ou em outro lugar, respirando os ares de liberdade e autonomia pessoais que hoje resultam bens escassos.


Rio de Janeiro, 28 de Agosto de 2008.

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