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2009, O Ano do Delírio

Autor: Jayme Carvalho em 28 de junho de 2009

(Palestra no XI Simpósio do SINARJ- 28/06/2009)

Boa tarde, primeiramente, gostaria de agradecer ao SINARJ pela oportunidade de estar aqui hoje falando pra vocês. Para aqueles que não me conhecem, antes de me dedicar à astrologia, eu passei 25 anos trabalhando com economia. A astrologia entrou na minha vida sem que eu percebesse e, quando me dei conta, passava todo o tempo livre lendo todos os livros que me caiam as mãos, fazendo todos os cursos que eu podia e me reunindo em diversos grupos de estudos.

Um dia tomei coragem e virei a casaca, transformei meu hobby em profissão e minha profissão em hobby. Hoje trabalho com astrologia, mas continuo a me interessar imensamente pela economia. Nesta tarde, estou feliz por ter a possibilidade de combinar essas minhas duas paixões. E é desde este lugar de astrólogo / economista que vou falar sobre o ano de 2009.

Antes de começar, devo dizer que outros dois economistas/ astrólogos formados pela UFRJ, Carlos Renato Mota e André da Paz, são corresponsáveis pela organização das ideias que pretendo apresentar hoje.

Eu chamei esta palestra de “2009, o Ano do delírio” em função do encontro entre os planetas Júpiter Netuno que prevalecerá sobre a maior parte do ano, mais precisamente entre os meses de março e dezembro de 2009. No entanto, a meu ver, teremos menor rendimento nas nossas análises se nos limitarmos a uma única configuração em um céu tão rico em dissonâncias quanto o céu de 2009. Sugiro olharmos a belíssima conjunção Júpiter Netuno dentro de um contexto maior, isto é, em contraposição a outras configurações com maior impacto sobre a economia, e poderemos suspeitar que, a abençoada promessa que traz Netuno e Júpiter, no momento atual, fica condicionada ou pelo menos constrangida por outras não menos abençoadas configurações, ainda que aflitas, ainda que bélicas, ainda que desconstruidoras. Mas a vida é assim, sempre cheia de inferno e céu. Vamos então à…

Nossa primeira configuração: a conjunção Júpiter Netuno.

Desde março, podemos assistir nos céus ao encontro de Júpiter e Netuno. Essa conjunção nos alerta para os riscos de inflacionarmos nossas expectativas, sob pena de desprezarmos a realidade. Na faceta mais luminosa, podemos esperar que milagres aconteçam ou mesmo que aumente o interesse do mundo por valores mais elevados. Porém, as demais configurações vigentes no céu de 2009 parecem desmentir tudo isto, a ponto de me fazer suspeitar que esses milagres talvez não existam.

É sempre bom lembrar que, para os gregos, os planetas representavam deuses da advertência, e o céu de cada momento, na verdade, nos alerta tanto para as oportunidades de que dispomos como, principalmente, sobre os riscos que corremos. Sinceramente creio que o encontro de Júpiter com Netuno ao longo de praticamente todo o ano de 2009 esteja nos advertindo para a possibilidade de embarcarmos em uma canoa furada. Basta olharmos para os jornais para suspeitar de que a realidade esteja em larga escala descasada dos prognósticos econômicos repetidos por grande parte da mídia e dos analistas financeiros.

Primeiro, se pensarmos nos desafios que o mundo terá de enfrentar com a atual crise econômica e as expectativas depositadas sobre a atuação do recém empossado presidente Barack Obama, devemos repetir como um mantra que não existem saídas milagrosas, isto é, que não será nada fácil, nem simples, nem muito menos rápido obter resultados imediatos das medidas tomadas. Basta verificar que o primeiro conjunto de medidas anunciadas pelo governo americano anterior não atendeu às necessidades da economia e nem contemplou as soluções desejadas, pois é preciso lembrar que as pessoas não mudam tão rapidamente nem tão facilmente como seria preciso em relação à crise atual, e que talvez seja mesmo imperioso mudar de pessoas. E, no entanto, não vemos nada disso no horizonte.

Júpiter e Netuno em conjunção nos alertam para termos cuidado com princípios que partem de premissas falsas. Em março, justo quando Júpiter se aproximava de Netuno, assistimos os líderes das 20 maiores economias do mundo apertarem as mãos e assinarem uma bela carta de intenções, fazendo repercutir nos jornais a sensação de que os problemas do mundo pudessem ser resolvidos naquele encontro. E, entretanto, já sabemos que o inferno está cheio de boas intenções. Desde então as principais bolsas de valores subiram entre 30 e 40%, a despeito do desemprego ter aumentado e da renda e PIB dos principais países terem decrescido e continuarem decrescendo. Fantasias? Exageros?

Vamos aos fatos: o desemprego nos EUA disparou com o fechamento de mais de 600 mil postos de trabalho por mês desde setembro de 2008. Agora já somam mais de 6,8 milhões de desempregados, o que corresponde a uma taxa de desocupação de 9,2%, a maior desde 1987, e que deverá chegar a 10% até o fim do ano. Na Zona do Euro, a taxa de desemprego alcançou 8,6%, refletindo os 4 milhões de postos de trabalho fechados em 2008. No Brasil, a perda de 800 mil postos de trabalho, entre dezembro de 2008 e fevereiro de 2009, marcou a primeira reversão do crescimento do nível de emprego desde 2004. A Comissão Européia prevê que outros 8,5 milhões de pessoas perderão seus empregos. Ao mesmo tempo, o PIB americano recuou 5,5% no primeiro trimestre de 2009; enquanto o europeu e o japonês caíram cerca de 4,8 e 3,8%, respectivamente. [O PIB da Rússia caiu mais de 9% no primeiro trim].

A questão dos ativos podres em poder dos bancos tampouco foi resolvida. A retomada de moradias cujas hipotecas não foram pagas alcançou dez mil processos por dia nos EUA. Ou seja, a crise das sub-prime saiu das manchetes dos jornais, mas não do mundo real. Vale lembrar que Júpiter e Netuno também nos alertam para incapacidade de pagamento de dívidas.

As tentativas anteriores do governo americano de resgatar a liquidez do sistema financeiro, abrindo as torneiras do Tesouro Nacional aos bancos privados aparentemente não deram certo. A primeira tranche do muito discutido Bail Out Plan do então presidente Bush resultou em um incremento significativo da liquidez do sistema financeiro, mas não do crédito. Este sim, o crédito, secou. Os bancos trataram de resolver seus próprios problemas de insolvência ou partiram para comprar outros bancos, ou ainda aproveitaram para distribuir bônus para seus dirigentes, porque, afinal de contas… ninguém trabalha de graça.

Portanto a velha fórmula de dar mais dinheiro para os bancos e cobrar menos impostos dos ricos pode até funcionar bem quando a economia está em um estado conhecido como business as usual, mas certamente não é esse o caso presente. Se os ricos pagarem menos impostos, ainda assim não vão consumir ou investir mais, porque está em vigência a armadilha pela liquidez, da qual muito nos alertou o velho economista inglês John Maynard Keynes. Todo mundo tem medo de emprestar ou de gastar. Por isso, o nível de negócios cai e a renda do país consequentemente também cai. Além disso, o consumidor americano, hoje mais preocupado em reduzir seu próprio endividamento, se sente muito mais relutante em pensar em trocar de carro ou de casa. Desta forma, seria muito mais eficaz que o governo americano estatizasse os bancos em dificuldades e resgatasse, ele mesmo, o crédito – como, aliás, fizeram Inglaterra e Alemanha – do que tentar induzir lobos a não comer as galinhas.

Desde fevereiro, com o novo governo de Barack Obama, há uma nova tentativa de resgate da economia, mas o que vemos é que praticamente nenhum dirigente dos bancos foi demitido ou saiu de cena, ou seja, as pessoas responsáveis pelos rombos astronômicos nos balanços dos bancos continuam ocupando suas antigas posições, tomando, quiçá antigas, decisões e recebendo boas gratificações, como se as instituições financeiras tivessem apresentado lucro real. A propósito, os recentes resultados positivos dos bancos americanos se devem mais a alterações na forma de contabilização dos títulos do que propriamente a lucro efetivo. Novamente vale lembrar que Júpiter e Netuno juntos podem sinalizar escândalos financeiros, blefes, descuidos, riscos de negócios fraudulentos ou ilícitos ou até mesmo perdas de negócios sem garantias sólidas.

Por outro lado, o aumento da liquidez no mundo, como resultado dos déficits orçamentários dos grandes países, capitaneados pelos EUA [cuja previsão de déficit é recorde, de quase US$ 2 trilhões], parece estar provocando novamente uma bolha que vem sustentando a nova alta nos ativos financeiros e no preço das commodities sem, no entanto, provocar o necessário resgate da demanda efetiva, pois o nível de atividade está em recessão nos principais países do mundo [à exceção da China e da Índia, é claro], e esses países em recessão representam quase 90% do PIB mundial. A esta altura já deveríamos ter aprendido que bolhas mais cedo ou mais tarde… estouram. [Outro dia surgiu uma luz amarela no horizonte: as agências de ratings já estão pensando em rebaixar o nível de risco do Tesouro americano, até hoje considerado triple A].

Com Júpiter e Netuno caminhando juntos até o fim do ano, temo que as expectativas se comportem como em um delírio coletivo e talvez não percebamos que estamos pondo mais lenha na fogueira [da crise econômica] ao invés de lograrmos apagar o incêndio. Por isso mais que nunca devemos ficar atentos para sabermos diferenciar entre as emoções e os fatos verdadeiros.

Mas alguns de vocês devem se perguntar, se Júpiter encontra Netuno a cada 12 anos ou pouco mais, como isso se deu no passado? Primeiro, temos a particularidade deste encontro em 2009. A retrogradação de Júpiter muito próxima ao grau de Netuno em Aquário fará com que esta conjunção permaneça vigente nos céus por cerca de dez meses. Em geral o encontro entre esses dois planetas vige por um mês ou dois apenas, como em janeiro de 1997 e em janeiro de 1984; os dois últimos encontros. No século passado, somente em duas ocasiões Júpiter e Netuno caminharam juntos ao longo de pelo menos três trimestres, a saber: de agosto de 1919 a junho de 1920 e de dezembro de 1970 a outubro de 1971. São esses dois momentos os que nos interessam. [o último encontro de Júpiter e Netuno em Aquário se deu entre março e novembro de 1843]

Em 1919-20, nossos avós assistiram, além do início da Gripe Espanhola que devastou o mundo, assistiram também ao início do maior processo inflacionário até então ocorrido em uma economia do mundo civilizado, bem no centro da Europa, isto é, na Alemanha, na Áustria e na Hungria. [a carestia alemã só recentemente foi superada pela infame inflação do Zimbábue. Nem mesmo o processo inflacionário brasileiro, que quase todos nós aqui vivemos, lhe foi superior].

Em 1971, o Brasil viu seu primeiro grande estouro da Bolsa de Valores, depois de um período de fortíssima especulação, enquanto o mundo se abalou com a crise do padrão dólar. Só para recordar, em Agosto de 1971, o então presidente Nixon rompeu finalmente o acordo de Bretton Woods e determinou o fim da paridade fixa dólar-ouro.

Esses dois momentos corresponderam a breves períodos de recuperação econômica dentro de um ciclo de baixas taxas de crescimento global [como veremos a seguir], corroborando com nosso prognóstico de que a conjunção Júpiter Netuno possa inflar expectativas incapazes de preservar o vigor em um momento imediatamente posterior. Podemos dizer que vivemos um desses momentos em que a verdade é diferente da esperança.

E por que hoje podemos nos atrever a suspeitar de que o mundo estaria incorrendo em um autoengano ao supor que o pior da crise já passou? Porque outras configurações planetárias nos alertam exatamente para o sentido inverso. O que a oposição Saturno Urano, nos céus desde fins de 2008, nos adverte é que, para que as forças do progresso [representadas por Urano] liberem as forças contidas na economia, será preciso primeiro vencer as resistências ou os obstáculos [simbolizados por Saturno]. Por isso, selecionei, para embasar esta tese, três outras configurações planetárias que maior relação possuem com a Economia: Saturno oposto a Urano, a passagem de Plutão pelo signo de Capricórnio e, finalmente, Saturno em aspecto dissonante com Plutão.

Vamos começar então pela configuração que tem funcionado através dos últimos dois séculos como um marcador do ciclo econômico de LP, a saber, os movimentos dos planetas Saturno e Urano.

Devo ressalvar que nem os ciclos astrológicos, nem os econômicos, respeitam o fatiamento do tempo em anos-calendário gregoriano. Desta forma, o ano de 2009 é apenas parte de um longuíssimo processo de desenvolvimento histórico, econômico, político, social e cultural que teve início muito antes de 2009 e cuja solução para os problemas fundamentais só seremos capazes de vislumbrar ao longo das próximas duas décadas. Neste sentido, podemos dizer que o ano de 2009 é um ponto de inflexão no processo de desenvolvimento econômico mundial.

Então começando pela oposição Saturno Urano:

Sabemos que Saturno oposto a Urano fala do embate entre o novo e o velho. Entre a mudança e o poder estabelecido. Entre a inovação e as regras e costumes vigentes.

Nós economistas aprendemos que, desde o surgimento do capitalismo industrial, a partir do século 18, a inovação se tornou o principal motor da dinâmica do crescimento econômico. Eu vou apresentar pra vocês o modelo de um economista de nome Kondratieff, que identificou a existência de ciclos de longo prazo, com uma duração em torno de 50 anos, como padrão de crescimento da economia mundial.

Este ciclo contém uma fase ascendente A e uma fase descendente B. Durante a fase A, observamos taxas de crescimento mais elevadas, entremeadas por recessões breves e pouco profundas. Já na fase B, as taxas de crescimento sempre caem a menos da metade das taxas observadas na fase anterior, com períodos recessivos mais prolongados e muito mais intensos.

(uma ressalva: as retas que vocês veem neste esquema são, na verdade, riscos como em um cardiograma. Outra ressalva é que o desenho não significa que o nível de atividade vai cair durante todos esses 24 anos da fase B, mas somente que as taxas de crescimento deverão ser mais baixas ou declinantes em relação à fase A).

Então comecemos pelo primeiro ciclo de LP do século passado: do final do século 19 até 1918, ocorreu uma fase A que correspondeu à Belle Époque e ao boom econômico que antecedeu à Primeira Guerra Mundial. A seguir ao conflito, assistimos a reversão cíclica para fase B, um período longo de recessões e crises, tanto na Europa como nos Estados Unidos (como a hiperinflação na Alemanha no início dos anos 20 e a grande depressão mundial dos anos 30).

Esta fase B só teve fim perto do final da Segunda Guerra Mundial, com um grande acerto entre os principais países do mundo reunidos nos bosques de Breton Woods, nos EUA, em 1944. Este acordo decidiu sobre a criação das principais instituições reguladoras do comércio internacional, como o FMI, o Banco Mundial e o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) que deu origem à OMC.

No pós-guerra, esta nova organização e as regras recém estabelecidas criaram as condições necessárias para que o mundo entrasse em um novo período de rápido crescimento, portanto em uma nova fase A do Ciclo de LP, puxado principalmente pela indústria petroquímica e pela indústria aeronáutica, para só encontrar um novo ponto de reversão cíclica em meados dos anos 60.

Durante esta nova fase B, iniciada em 1965, assistimos a crise do dólar (71), a primeira crise do petróleo (73), com a subsequente desaceleração do crescimento mundial, a segunda crise do petróleo (79), que resultou em uma profunda recessão americana no início dos anos 80 e um novo período recessivo em 87.

O ano de 1989 marca o início de uma nova fase A, quando o mundo assistiu a queda do muro de Berlim (89) e, com a Perestroika, a dissolução da antiga União Soviética (91). Esta nova fase A foi marcada pelo Consenso de Washington (89), que apregoava como receita a desregulamentação dos mercados, o fim das restrições aos investimentos diretos e ao comércio internacional, a redução dos gastos públicos e taxas de juros de mercado, e com isso lançou as bases para a nova fase ascendente do ciclo de LP, capitaneados, desta vez, pelos investimentos em tecnologia da informação e em microeletrônica.

Todos nós que nos encantamos, nos últimos 20 anos, com o aparecimento dos telefones celulares e dos Ipods e nos tornamos usuários da internet somos testemunhas deste boom. É este o ciclo que agora apresenta sinais de esgotamento.

Uma jovem professora de Cambridge, a economista venezuelana Carlota Peréz, foi recentemente aclamada por sua tese sobre desenvolvimento econômico, onde dizia: “que estamos em plena era da informação, iniciada com a produção em série dos chips de computador e sua quase universalização nos últimos 20 e poucos anos” [exatamente a fase A do último ciclo], que ela chamou de fase de instalação. O mundo começará a viver em breve uma nova fase que poderá durar de vinte a trinta anos, quando as novas tecnologias vão, enfim, produzir o grande salto na qualidade de vida da maioria da população mundial. Esse período corresponderá a “fase de desdobramento”, como nos ciclos anteriores.

Carlota Peréz segue dizendo: “a economia de mercado é naturalmente instável. Quando está no auge, peca pelos excessos; quando está em baixa, se autocorrige. No entanto, esta crise, em conjunto com o estouro da bolha da internet em 2000 [que ela considera duas etapas da mesma crise], é de uma natureza distinta. Estamos presenciando hoje um colapso de envergadura muito maior que a usual. O atual fenômeno equivale ao pânico provocado pelos investimentos em massa nas estradas de ferro, em meados do século XIX, na Inglaterra, ou à quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. Colapsos como esses só ocorrem a cada meio século, no meio do caminho de grandes revoluções tecnológicas”. [ou seja, os economistas de Cambridge continuam a estudar os ciclos de Kondratieff e, portanto, os ciclos de Saturno-Urano sem sabê-lo ou, pelo menos, sem mencioná-lo].

Vale aqui um parêntesis: Nikolai Kondratieff (nascido na Rússia em 1892) publicou seu livro sobre os Ciclos de LP em 1925. Porém, suas ideias desagradaram ao Comitê Central do PC que preconizava a crise pela qual o mundo passava nos anos 20 como o colapso final do capitalismo. Kondratieff foi demitido do emprego público que ocupava em 1928, expulso do partido e preso em 1930 e executado a mando de Stalin em 1938, pois sua teoria demonstrava que o capitalismo não desapareceria na crise dos anos 20/30, mas ao contrário retomaria seu crescimento mais adiante. Como o fez.

Essas ideias chegaram ao Ocidente pelas mãos de Joseph Schumpeter, economista austríaco, cuja obra principal, Business Cycles, também descreve os ciclos econômicos. Kondratieff só pôde escrever até os anos 20, mas sua teoria teve ainda importantes contribuições, que lhe deram sequencia, por parte de outros economistas, sempre em momentos de crise. É curioso ver como os economistas retiram das estantes os livros sobre ciclos econômicos assim que a crise se instala, claramente em busca de uma luz no fim do túnel, mas se apressam em devolvê-los às mesmas estantes, tão logo o ciclo retome a espiral ascendente.

Kondratieff identificou como razões para as reversões cíclicas, tanto da baixa quanto da alta, a maior ou menor resistência do ambiente institucional/regulatório à adoção das inovações tecnológicas na economia. Ou seja, no início da fase A, a inovação encontra as condições maduras e propícias para ser adotada. Este é o momento em que as regras e o poder estabelecido caminham lado a lado, de braços dados, com a nova tecnologia; enquanto na reversão cíclica da fase A para a fase B, as mudanças se deparam com fortes resistências por parte tanto das instituições quanto da regulamentação vigente.

Levou algum tempo para que economistas/astrólogos se dessem conta de que o conflito entre o velho e o novo, entre a mudança e o poder estabelecido, entre a novidade e os costumes vigentes, ocorridos na reversão cíclica da fase A para a fase B, se tratava na verdade de um embate entre Saturno e Urano. E, quando superpostos, a correlação entre o ciclo de Kondratieff e o ciclo desenhado por esses planetas era espantosamente semelhante ou, para ser mais exato, quase idêntica.

No Brasil, essa constatação foi realizada pelo prof da UFRJ, Carlos Renato Mota, que teve seu projeto de tese rejeitado pela universidade, nos anos 80, por não ter fundamento científico. Na Franca, Andre Barbault estudou essa mesma correlação e a publicou em seu livro de 1998. O Prof Mota e o senhor Barbault nunca se corresponderam, portanto eu credito à sincronicidade essa deliciosa coincidência.

Resumo da ópera: a crise atual tem como causa fundamental a oposição Saturno-Urano, que já sinalizava, desde sempre, para os anos de 2008-10, uma nova reversão do ciclo de LP. Plutão em Capricórnio é um adjetivo desta crise, porém um adjetivo e tanto!

Com isso chegamos à passagem de Plutão por Capricórnio.

Ao olharmos para trás, observamos que Plutão entrou em Capricórnio pela última vez, em 1762/63, para só sair dele em 1778. Dois eventos políticos marcaram o início e o fim desta passagem: o início foi marcado pelo fim da Guerra dos 7 Anos, em 1763; enquanto a Independência dos EUA, em 1776, fechou com chave de outro esta passagem.

A Guerra dos 7 Anos foi o primeiro conflito armado de proporções mundiais, com o envolvimento não somente da França e da Inglaterra, mas também da Rússia, da Prússia, da Áustria, da Espanha, da Suécia, entre outros. O Tratado de Paris, que selou o fim da Guerra, representou o fim da liderança da França e o início da hegemonia da Inglaterra na Europa e como maior potência colonial.

O que podemos esperar então a partir da atual passagem de Plutão em Capricórnio? Haverá uma mudança na atual liderança mundial? Se isto acontecer, provavelmente não teremos mais a hegemonia de um único país como antes, mas sim uma multipolarização dos centros de poder, em consonância com a Era de Aquário, cuja aurora se aproxima.

Por outro lado, a independência dos EUA ocorrida no final daquela passagem nos sugere que, com o retorno de Plutão à sua posição natal no mapa dos EUA, os americanos talvez sejam chamados a prestar contas quanto ao seu próprio poder econômico e quanto ao seu poderio no mundo, como uma correção de rota resultante desta revolução plutoniana no mapa dos EUA. [O grupo dos Bric tem pleiteado uma reforma do sistema monetário discutindo, às vezes abertamente às veladamente, sobre a substituição do dólar como moeda internacional, pois há uma clara contradição entre a política monetária americana e a necessária de estabilidade do sistema financeiro, uma vez que o dólar não tem cumprido mais suas funções de moeda de referência. Por exemplo, a China já sugeriu aos EUA que lançassem bônus da dívida americana em yuan.]

Mas nós sabemos que a tão temida quanto aguardada passagem de Plutão pelo signo de Capricórnio representa um passeio do deus da transformação pelo mundo material, transmutando o nosso modo de produzir as coisas, as nossas relações de produção e a nossa relação com a matéria, ou seja, com a economia.

E o que aconteceu efetivamente nesta área na segunda metade do século 18? Ocorreu o que os economistas chamam de Revolução Industrial, isto é, um período de fortíssimo crescimento econômico, a partir de um dinamismo jamais visto no qual a produtividade das empresas cresceu vertiginosamente como resultado das mudanças implantadas no modo de produzir, tornando os bens de consumo mais acessíveis a parcelas cada vez maiores da população e com uma qualidade muito superior à obtida com o modo de produção anterior. O caso emblemático dos tecidos.

E quais foram os dois pilares desta transformação? A substituição do trabalho manual pela produção mecanizada e a substituição da força animal por energia gerada por máquinas.

Antes da RI, o modo vigente de produção era o sistema de putting-out, no qual o comerciante fornecia matéria-prima, a lã, para os artesãos que a fiavam e teciam com suas rocas de fiar e seus teares manuais, em suas próprias casas. Naquele momento, o trabalhador realizava todas as etapas do processo de produção. Entretanto, a qualidade do produto final dependia muito da habilidade manual dos artesãos, e o ritmo de trabalho seguia a disposição de cada um desses trabalhadores.

Após a RI, os trabalhadores se tornaram meros fornecedores de mão de obra em troca de salários baixos, ocupando-se de somente uma única etapa do processo produtivo, não mais ditado por sua criatividade e destreza, mas sim pela velocidade e eficiência das novas máquinas agora de propriedade do novo patrão capitalista. Um processo com perdas e ganhos ou, como nós dizemos na astrologia, com luz e sombra.

Do lado energético, o que fazia mover as coisas até então era a força dos animais e, em alguns casos, a roda d’água (que dependia da vazão dos rios) e os moinhos de vento (que permaneciam parados em momentos de calmaria). Em 1765, James Watt conseguiu transformar energia térmica, a partir do carvão, em energia mecânica. Para se ter uma ideia do impacto deste invento, a máquina de maior potência existente até então era uma roda d’água que servia ao Palácio de Versailles, com uma potência de apenas 75 cavalos-força, enquanto a primeira máquina a vapor de Watt, comercializada em 1769, tinha uma potência de 1000 HPs.

Então com o aparecimento de uma série de novas tecnologias (como os teares e as fiandeiras) movidas pela máquina a vapor de Watt, a Inglaterra, primeiramente, e o resto da Europa, em seguida, assistiram a uma explosão de crescimento, dando início ao nosso já conhecido ciclo de LP de Kondratieff.

Neste momento, alguns de vocês já podem estar se perguntando, como andava Saturno e Urano? E para aqueles que já suspeitavam: Plutão na época da RI iniciou sua passagem por Capricórnio concomitantemente à conjunção Saturno Urano (em 1761/62), ou seja, daquela vez o mundo assistiu a transformação no modo de fazer as coisas, através da introdução de tecnologias novíssimas apoiadas por reformas institucionais que propiciaram o crescimento da produção de forma sem precedentes. Aparentemente, não teremos tanta sorte no momento atual [de vez que, como vimos, os céus sinalizam que essa mesma transformação se dará em um ambiente de atrito ou resistência entre instituições, leis e regulamentação, de um lado, e novas tecnologias, novas formas de organização e novas relações de trabalho, de outro]

Que outras pistas então a passagem de Plutão durante a RI pode nos fornecer para o momento atual? Primeiro, eu posso ouvir ecos do sistema de putting-out no que hoje se convencionou chamar de home Office, onde não é mais necessário sair de casa para produzir. Recebemos nossas encomendas de trabalho por telefone, email ou ainda pelo correio tradicional ou por motoboy, efetuamos nosso trabalho (seja uma consultoria econômica ou astrológica, um artigo, uma edição ou tradução de textos) de dentro de nossas próprias casas ou pequenos escritórios e enviamos o produto pronto ao cliente final. [A propósito, no início deste mês, o Caderno Prosa e Verso do Globo trouxe o título “Novos sentidos do trabalho”, onde discutia o que agora significa trabalhar, a partir da profunda ruptura dos valores dominantes nos debates sobre emprego.]

A segunda pista é quanto à questão energética. O desenvolvimento da máquina a vapor na passagem anterior de Plutão nos faz lembrar que este tema agora deverá estar no cerne das discussões sobre fontes economicamente viáveis de energia renovável. Não faz mais sentido arrancarmos da natureza 4 toneladas de matérias-primas para produzirmos um automóvel e entregá-lo a uma única pessoa para sair pelas cidades grandes queimando petróleo, caro e escasso. Pra vocês terem uma ideia: até antes da crise, SP licenciava cerca de 800 novos automóveis por dia contra o registro de 500 bebês recém nascidos! Essa equação desta forma não fecha.

Então o que Plutão em Capricórnio nos sinaliza e em que o mundo precisa mudar? A forma de fazer as coisas precisa mudar. A nossa relação com a matéria precisa mudar. Afinal, trabalhamos mais horas do que devíamos, para ganhar mais dinheiro do que precisamos, para comprar mais bens do que realmente necessitamos e muitas vezes para impressionar gente de quem nem gostamos realmente.

O ano de 2009 marca esse ponto de inflexão. A meu ver, a combinação da reversão cíclica com a transformação no modo de fazer as coisas sugere que seremos todos convidados a aprender a viver de uma nova forma, possivelmente com menos, para o bem da própria humanidade. Pois quem está em risco não é o planeta, mas nós, a raça humana. O planeta está para todo sempre salvo e continuará a existir por muitos bilhões de anos, depois que os homens dele desaparecerem.

Finalmente, a última configuração, que em poucos meses veremos nos céus: a quadratura de Saturno e Plutão.

Saturno fará um aspecto tenso com Plutão, a partir de novembro de 2009, pela primeira vez desde a queda das Torres em NY.

E o que significa astrologicamente esta configuração? Na verdade, ela guarda forte relação com a simbologia de Plutão em Capricórnio, pois representa implosão de poder, perda de status, quebra de hierarquia, um estado controlador e a emergência de tudo o que é podre, entre outros significados. Já podemos, portanto, imaginar que as transformações plutonianas da matéria vão se acentuar no final de 2009.

E o que podemos esperar? Podemos esperar o desabamento de instituições que não estejam solidamente fundamentadas, isto é, a falência de empresas e estados (podemos dizer que o banco de investimentos Lehman Brothers e a Islândia aparentemente apenas abriram a cena); também podemos esperar a emergência de um maior numero de casos de corrupção e dinheiro sujo (basta olhar os casos Madoff, com um rombo de US$ 50 bilhões e Stanford, mais modestamente, com um rombo de US$ 7 bilhões – os dois já estão presos – e o último a aparecer, um tal de Angelo Mozito, deu um rombo no Countrywide Financial de somente US$ 1 bilhão. Esse parece que não é americano e está foragido); também podemos esperar um estado mais intervencionista (ou seja, o estado pode vir a ser chamado a exercer um papel de comprador de última instância e de investidor de última instância, se os agentes privados não derem conta do recado; temos aí a GM recém estatizada e as novas regulamentações do mercado financeiro anunciadas tanto pelos EUA quanto pelos países da Comunidade Européia); por fim, nacionalismo e protecionismo (aqui eu acho que a China vai desempenhar um papel fundamental).

Mas prestem atenção! A oposição Saturno Urano, que teve início no dia da eleição do Obama (lembram da frase emblemática que ele disse na noite da sua eleição no comício histórico de Chicago: change has come to Washington? Ou seja, Urano chegou a Saturno), pois bem, esta oposição permanece nos céus até o final de julho de 2010. A quadratura entre Saturno e Plutão, que veremos a partir de novembro de 2009, permanecerá até agosto de 2010. Entre julho de 2010 e fevereiro de 2011, será a vez de Júpiter quadrar Plutão. Também Marte fará aspecto tenso com Plutão entre julho e agosto de 2010. E ainda a partir de maio de 2010, Urano entra no signo de Áries. Ou seja, vamos observar cinco planetas em signos cardinais, que são signos de ação, a saber: Plutão, Urano, Saturno, Júpiter e Marte.

Eu fui buscar quando o último encontro desses planetas em signos cardinais ocorreu e encontrei o ano de 1930: o início da Grande Depressão Mundial. Mas vamos deixar a análise mais detalhada desta configuração para o nosso encontro no ano que vem. [A Celisa falou sobre este tema]

O que é importante ter em mente é que não podemos olhar para trás e acreditar que as crises sejam iguais. Crises não se repetem, apenas se sucedem. Senão seria como analisar a folha fresca na árvore a partir das folhas secas no chão.

Para nossos propósitos hoje, essa configuração de 2010 serve para indicar que a crise que vivemos em 2009, ao contrário do que muitos economistas andam proclamando, não será breve e deverá se agravar muito no próximo ano.

Mas vamos voltar à economista de Cambridge. Quando perguntada sobre o futuro, Carlota Peréz respondeu [do ponto de vista acadêmico], de uma forma bem em linha com o que estamos descrevendo aqui:

Quando lhe perguntaram sobre o que viria depois da atual crise, Ela disse:


Provavelmente um período de bonança, em que o estado voltará a ser um ator mais presente na economia e o capital produtivo vai direcionar os investimentos, tomando o lugar do capital financeiro, como até pouco tempo atrás. Antes de chegar a essa fase, é claro, será preciso superar a recessão que sempre sucede aos desastres.

Quanto tempo pode durar a recessão mundial?

Tudo depende da interpretação que os governos dos países mais ricos darão à natureza dessa crise. Se eles acreditarem que se trata apenas de um problema de falta de confiança do mercado financeiro, vão se empenhar em aplicar políticas superficiais e injetar dinheiro no sistema, para reavivar os mercados de valores e imobiliário. Nesse caso, há duas opções: ou a recessão vai ser muito longa ou surgirá uma nova bolha seguida de um colapso ainda maior [ou, como alguns economistas falam, de uma conformação em W]. A história mostra que um período recessivo pode durar apenas dois anos, como ocorreu em meados do século XIX, ou quinze anos, como no caso de 1929. [então aqui vai um alerta dos céus: analisando as duas oposições anteriores, Saturno se opôs ao Urano três vezes em 1965, mas o fez cinco vezes em 1918-20. Então o encontro de Saturno Urano com cinco passagens na crise atual nos sinaliza que as dificuldades desta vez podem ser tão altas e tão duras quanto o foram no pós-Primeira Guerra Mundial]

Quanto a que políticas pareceriam mais adequadas neste momento, Carlota Peréz respondeu: “Para começar, é preciso reconhecer que não se trata de regressar ao estágio em que estávamos antes do colapso [Saturno representando o passado], e sim de dar um passo adiante [Urano]. Os governos terão de criar um mecanismo regulatório global para as finanças [Urano vindo para Saturno]. Dentro dos países, deve-se reformular [Urano] o mercado financeiro por meio de um conjunto de políticas fiscais e de controle [Saturno]. Os gastos públicos devem ser direcionados para favorecer os investimentos produtivos e inovadores [Urano]. Os maiores lucros dos investidores têm de passar a vir da produção real [Saturno]. Os lucros fáceis com especulação devem ser contidos com impostos mais altos. Deve-se deixar para trás a máxima “Não trabalhe por dinheiro, deixe que o dinheiro trabalhe para você”. [“Deixar para trás” é Urano] Será preciso criar [Urano] mais e melhores empregos que produzam e distribuam a riqueza segundo outro critério: o esforço empreendedor e de trabalho [Saturno na veia]. O mundo financeiro terá de ser reorientado [Urano] para criar formas de investir no setor produtivo [Saturno]. O essencial é favorecer a expansão e a inovação na produção[ou seja, Urano dando as mãos a Saturno]”.

Para finalizar, podemos resumir que o ano de 2009 faz parte de um longuíssimo processo de desenvolvimento das forças produtivas, e se reveste de uma importância histórica como ponto de inflexão do ciclo econômico de LP, associado a um processo de transformação da economia tão profundo quanto foi a própria RI que nos lançou nesta vida materialmente focada em que vivemos. A conjunção Netuno Júpiter talvez possa borrar nossa visão sobre isto tudo.

Além disso é preciso atentar que a solução para essas questões que ora emergem não está no horizonte de 2009, nem dos anos imediatamente posteriores, mas podemos ter esperanças de que encontrará novas condições de possibilidades, ao longo dos próximos 20 a 25 anos. (lembrando que a saída de Plutão do signo de Capricórnio será em 2024, e o novo encontro de Saturno com Urano, desta vez como conjunção, isto é, caminhando lado a lado, se dará, no signo de Gêmeos, somente em 2032).

Bom, com isso, quero agradecer mais uma vez ao Sinarj pelo convite e, para encerrar esta palestra, cito também uma vez mais o verso do nosso querido Guimarães Rosa, ele mesmo um profundo estudioso da simbologia astrológica, que talvez sirva para nos ajudar a enfrentar esse pulsar da vida econômica. Ele diz: o correr da vida embrulha tudo. A vida e assim: esquenta e esfria, aperta daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que a vida quer da gente é coragem.

 

Rio de Janeiro, 20 de outubro de 2009.

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