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O Universo Encantado

Shelley L. Ackerman entrevista Richard Tarnas  Tradução: Angela Nunes em 31 de março de 2009

Um acadêmico respeitado cria um “escândalo” com um novo trabalho que liga a história cultural e planetária à astrologia.

O universo é consciente? O cosmos realmente preocupa-se com o que acontece na Terra? Em um novo livro, “Cosmos and Psyche”, um professor e historiador cultural do Instituto de Estudos Integrais da Califórnia, Richard Tarnas, Ph.D., conduz a questão em termos de um universo sensível e diligente. Enquanto muitos cientistas e acadêmicos apoiam um paradigma no qual fé e razão estão separados, Tarnas oferece uma perspectiva integrada. Utilizando astrologia e correspondências planetárias para ilustrar padrões na história mundial, ele nos lembra que as estrelas, de fato, iluminam o caminho da humanidade em sua evolução espiritual e esforço para amadurecer. Tarnas recentemente falou no site Beliefnet sobre história e astrologia e de como, numa cultura com uma cosmologia sem alma, “você nunca consegue ter o bastante do que você realmente não precisa”.

Seu primeiro livro, “The Passion of the Western Mind”, publicado em 1991, é amplamente ensinado nas universidades. Você usou a palavra “escandaloso” para descrever seu novo livro, “Cosmos and Psyque”. Porque um escândalo?

Dadas as atuais afirmações sobre o cosmos, é um escândalo para um professor de filosofia publicar um livro que de algum modo apoia a astrologia. Eu penso que é seguro dizer que, de todas as perspectivas, a astrologia é uma das mais sujeitas ao desdém e à rejeição automática no mundo intelectual moderno. Eu mesmo era cético até que conduzi minha própria pesquisa. Mas a evidência é muito convincente: existe uma espantosa e consistente correlação entre alinhamentos planetários e padrões de experiências humanas. “Cosmos and Psyche” encaminha esta evidência de forma que os novos leitores dessa perspectiva possam examiná-la e acessá-la por si próprios. É um pouco como o telescópio de Galileu: ninguém podia olhar através dele e ver o novo universo que ele revelava, mas isso foi um escândalo na época.

Como você descreveria a perspectiva astrológica?

A maioria das culturas anteriores à época moderna, incluindo a nossa, tinham algum tipo de astrologia como parte de sua visão do mundo, portanto eles entendiam os ciclos da lua, do sol e dos planetas em termos de um significado profundo. A perspectiva astrológica vê o universo como significativo e unificado. Ao invés da divisão moderna entre a consciência humana intencional, em busca de significado, e a acidental, num universo sem significado, a astrologia aponta para um universo que é integrado em todos os seus níveis: exterior e interior, macrocosmo e microcosmo, celestial e territorial. Como era dito pelos antigos, “assim em cima, como embaixo.”

Qual seria a vantagem de uma visão do mundo que inclui a astrologia?

A existência de correlações entre os ciclos planetários e a vida humana torna possível aos indivíduos e às sociedades entender melhor que energias arquetípicas estão trabalhando a cada tempo. Isto pode nos ajudar a ser mais hábeis e conscientes de como nos ligamos às atividades da vida. É como saber a previsão do tempo antes de se lançar no oceano para velejar ou surfar. Ajuda a saber de onde virão os ventos e as ondas.

Mas existe também uma vantagem maior: a civilização moderna paga um preço alto por fazer parte de um universo que acredita ser aleatório e sem significado espiritual. A Natureza não é respeitada mas, ao contrário, é explorada para se obter benefícios a curto prazo. E um universo sem finalidade, cria um senso de profundo vazio espiritual interior, que as pessoas tentam preencher com um consumo de produtos sem fim, de forma que a tecnologia industrial, produzindo estes produtos, está canibalizando o planeta. Mas como sabemos, você nunca consegue ter o bastante daquilo que você realmente não precisa. Uma nova visão da natureza e do universo, dotados de alma e espiritualmente significantes, forneceria um fundamento melhor para a responsabilidade moral e o sentido de participação espiritual.

Nosso sistema econômico parece ter perdido muito de seu fundamento moral e espiritual. Toda grande empresa precisa lucrar a cada trimestre mas a própria Natureza dita outra coisa. Por exemplo, agricultores deveriam deixar a terra descansar a cada 7 anos. Não deveriam os ciclos de negócios se espelhar nos ciclos da natureza?

Nossa civilização necessita desesperadamente desenvolver mais consciência sobre as consequências de nossas atividades. Nós precisamos estar atentos não apenas à conclusão do relatório de lucro do próximo trimestre mas ao que as próximas sete gerações irão experienciar como resultado de nossas ações. O único caminho para que uma mudança tão fundamental ocorresse seria se um número suficiente de indivíduos se tornasse mais intensamente conscientes de nosso profundo enraizamento com a vasta comunidade terrestre e com o próprio universo. Nossa civilização parece estar basicamente presa em um período imaturo de seu desenvolvimento, como um adolescente fechado em si mesmo, que ainda não foi iniciado nas realidades mais profundas da vida e que então continua a agir a partir de uma visão limitada e de um estado de consciência frequentemente autodestrutivo. É como se nossa civilização inteira estivesse passando por uma iniciação no nosso tempo, em termos de uma nova visão do mundo e a um novo modo de viver.

Como e quando a astrologia perdeu o apoio da academia e da ciência estabelecidas?

Historicamente, a astrologia tem de fato uma nobre e longa tradição que era central para a civilização ocidental, desde os antigos gregos. Numa época tão recente quanto a Renascença, ela era altamente bem vista pela maioria da elite intelectual e cultural. A mudança realmente aconteceu no final do século 17, quando muitos fatores ocorreram ao mesmo tempo – a convicção crescente de que a mente moderna era superior a todas as antigas tradições e perspectivas, a nova percepção de que o cosmos era desencantado ou sem alma, a crença de que para ser livre, o ser humano não poderia viver em um universo astrológico e um gradual declínio intelectual dentro da própria astrologia, que a fez cada vez mais vulnerável à crítica. Subjacente a tudo isso, uma mudança profunda de consciência estava ocorrendo com o self moderno obscurecendo a visão astrológica de modo que uma outra coisa pudesse emergir. A astrologia parou de ser ensinada em Harvard e Oxford no final do século 17; de forma interessante, contudo, cursos de astrologia estão voltando à educação superior, desta vez integrando o desenvolvimento moderno e pós-moderno.

Limitados a uma completa fusão eletrônico-tecnológica, como nós poderemos ir de nosso estado atual de constante distração e dependência de tecnologia para um outro que surge de um sereno relacionamento com a natureza e o cosmos, que nos permite ouvir nossa própria respiração?

É um enorme desafio. Por um lado, penso que cada indivíduo está numa jornada sobre si mesmo. Os indivíduos precisam ouvir com cuidadosa atenção seus próprios corações, suas próprias aspirações por novos horizontes. Eles precisam prestar atenção naquilo que sentirem como “inapropriado” – talvez desligar a televisão, estar com a natureza mais frequentemente, olhar o céu e o firmamento noturno de fora da cidade. Nós todos precisamos orientar mais nossas vidas na direção da beleza, da arte, dos relacionamentos, e em direção ao autoexame interior, quer seja pela meditação ou por formas mais poderosas de experiência. Por exemplo, os rituais ayahuasca provenientes da América do Sul, são extraordinários e poderosos rituais iniciativos, que ajudam as pessoas a se tornarem conscientes de que elas estão em um universo maior do que elas pensavam.

Então, por um lado, existem caminhos individuais nos quais cada um de nós tem que encontrar seu próprio rumo. Mas há ao mesmo tempo a questão de como estamos lidando com os maiores problemas de consciência moderna no nível coletivo – por exemplo, o enorme encantamento coletivo que acontece neste momento com a comunicação de massa.

Encantamento? Como medicados e hipnotizados eletronicamente?

Exatamente. Muitas pessoas hoje estão mais sintonizadas com sitcoms e “reality shows” do que com aquilo que está acontecendo na biosfera planetária ou mesmo na vizinhança de sua comunidade. O que despertará as pessoas desse transe? Muitos experts acreditam que alguns eventos extremamente críticos se desvelarão na próxima década ou aproximadamente. Nós já vimos alguns nestes últimos dois anos: Katrina, a tsunami, os mais violentos furacões e tornados, os estranhos padrões do tempo, o derretimento das capas de gelo… E sabemos a partir das vidas dos indivíduos que não há nada como uma crise mortal para reconfigurar profundamente a vida de uma pessoa. Devido a uma tal crise, uma mudança radical de valores tende a emergir. Toda a estrutura moral de uma pessoa ou um modo de ser de uma sociedade inteira é transformada. Parece-me totalmente possível que nós como uma civilização e como uma espécie encaremos algum tipo de crise que servirá para catalisar este despertar. A questão é: quão severa a crise terá que ser para que este despertar ocorra? Este é o ponto em que chegamos, com nosso livre arbítrio, nosso espírito.

Como você veio a utilizar os aspectos planetários (relacionamento cíclico dos planetas entre si) ao invés dos signos, em sua pesquisa?

Ao longo de 30 anos de pesquisa, eu achei que as maiores evidências de correspondências envolviam os aspectos, como conjunções e oposições entre os planetas, mais do que envolvendo os signos. É mais importante que haja uma lua nova ou uma lua cheia (que se formam pela conjunção e oposição do sol e da lua) do que em qual signo a lua está. Não é que os signos não tenham significância. Mas a dinâmica arquetípica mais básica que vemos na história e nas biografias das pessoas parece mais precisamente conectada a aspectos geométricos entre os planetas. Os signos colorem aquelas energias, mas as próprias energias estão relacionadas aos planetas e seus alinhamentos cíclicos.

Vemos isso, por exemplo, na grande conjunção de Urano e Plutão que ocorreu de 1960 a 1972. Ela coincidiu precisamente com um tempo de grande aumento de poder dos impulsos inovadores e revolucionários no mundo, com grande convulsão social e mudança libertadora ocorrendo em cada país do planeta. É justamente o que se deveria esperar dado o que os astrólogos há muito concluíram sobre os significados daqueles dois planetas. Aqueles mesmos dois planetas estavam também em alinhamento durante a época da revolução francesa , 1787–1798, quando houve uma irrupção virtualmente idêntica de enorme rebeldia e energias de libertação varrendo o mundo, com mudanças radicais afetando muitas sociedades. Nós estamos realmente caminhando para o aspecto de quadratura destes mesmos dois planetas nos próximos quinze anos, então baseados nas correlações do passado podemos antecipar algumas mudanças profundas e novas energias sociais num futuro não muito distante.

O que você espera que “Cosmos and Psyche” vá levar a efeito?

Eu espero que o meu livro abra a leitores atentos uma nova dimensão do universo extraordinário em que vivemos, um universo que parece estar instruído em todos os níveis por uma inteligência criativa profunda. Eu acredito que podemos participar do desvelamento evolucionário deste universo mais consciente e plenamente se estivermos cônscios das correspondências entre os movimentos planetários e nossas vidas. E podemos avançar para um relacionamento mais confiante entre a vida e o cosmos quando reconhecermos os vastos padrões de significados e propósitos nos quais estamos inseridos.

Richard Tarnas é graduado pela Universidade de Harvard e pelo Instituto Saybrook. Foi durante dez anos Diretor de Programas no Instituto Esalen. É fundador do programa de graduação em Filosofia, Cosmologia e Consciência no Instituto Califórnia de Estudos Integrais e membro adjunto do Instituto de Graduação Pacífica.

 

Rio de Janeiro, 31 de março de 2009

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